terça-feira, 29 de novembro de 2011

Melancholia


Eu estou para a vida tal como Michael (Alexander Skasgard) está para Justine (Kirsten Dunst), sua noiva fugidia no filme de Lars Von Tries, Melancholia (2011). Isso mesmo, começo esta redação na primeira pessoa, pois minha intenção não é ser objetivo, muito menos impessoal. Eu quero aqui expressar minas impressões acerca do filme, assim como demonstrar a maneira que me senti de alguma forma refletido nessa produção.

Como eu dizia: eu sou Michael. Projetando-me, resignado sobre a beleza arrebatadora e enigmática da vida, a minha nubente bela e triste, Justine. Estou lá, ansioso para ser seu cúmplice, para confirmar nossas núpcias e cobrar suas promessas de amor eterno. Ela sorri, mas não consegue esconder sua dor, me escapa e vaga etérea no seu próprio mundo. Seu transe impermeável revela-me, em tom quase cruel, porém não menos bonito, que estamos todos completamente sós.

Justine olha-me e parece ter compaixão, mas não é capaz de suscitar esperanças de que um dia eu poderei penetrá-la. Mantém-se longínqua e abstrata, na medida em que decompõe minhas ilusões e me informa, doce e materna, quão patéticas são minhas intenções.

Eu a vejo absorta no seu balé insano e colho dela os seus significados messiânicos. “Deixa-me dançar contigo, Justine?”. Propalo essa súplica ao espaço vazio que nos separa. Não sei se ela ouve. Percebo-lhe, porém, inabalável a seguir na sua valsa solitária, distanciando-se cada vez mais e mais de mim.