quarta-feira, 20 de junho de 2007

Ultra Violência


Muito relutei antes de unir caneta e papel a fim de verter na escrita a dimensão e a substância do meu sentimento algoz, nutrido em função do desamor que possuo em ralação a minha existência, fortalecido e justificado por esta obsessão na qual me enredo por tua causa. Meu âmago intumescido por tua falta, hoje mais do que nunca, transborda em meus olhos negros de piche, estes dois buracos preenchidos por uma fome úmida, que se voltam para dentro e nada são capazes de ver além da tua imagem. O meu peito ressona teu nome irremediável; na minha pele uma tonalidade terrosa se acentua, e as cores da doença têm sua origem em meu inelutável desapego à vida: uma abulia crônica onde me encerro pelo teu sorriso _ o mais radiante dos pecados que já conheci.
Não somente pelo amor deficiente que te devoto, mas também por efeito do cansaço de um inválido peregrino de linhas esquecidas, assumi de uma vez por todas esta minha austeridade senil, uma circunspeção árida, quase impermeável _ a redoma oriunda do meu trauma chamado vida. A entranha lesionada, hoje, no entanto, clama só por ti, e vibra dilacerada quando recordo teus lábios brancos, indissoluvelmente empenhados na recusa.
A dor, não obstante, segue intransponível.
Derramei parte de meu lamento nesta confissão inútil, mas a intensidade de minha disfunção espiritual apenas aumentou. Ainda não havia encontrado a palavra mais triste; o termo equivalente a minha sorte. Agora penso, em todo o mundo apenas um sígno certo para qualificar o sujeito torturado por uma paixão estéril e aviltante: o meu nome _ símbolo da abjeção, do estupro.